A DENGUE no Brasil é endêmica, afetando todas as regiões do país, com pico de expressão no verão, tornando-se uma das preocupações da população. Em 2015, por exemplo, houve 1.649.008 casos de dengue no Brasil, com 1.569 casos graves, 863 óbitos e 2,3 mortes por dia.
A MEDICINA é a ciência mais complexa de todas, particularmente quando nos defrontamos com doenças como a DENGUE, cuja complexidade já se inicia no modo de transmissão pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti infectada com o vírus, capaz de disseminar a doença durante todo o seu ciclo de vida, de seis a oito semanas.
Passados quatro a dez dias da contaminação, chamado período de incubação, uma parte dos indivíduos infectados será assintomática (infectados não doentes), outra parte exibirá a doença (infectados doentes) em seu amplo espectro de sintomas e sinais, variando desde formas pouco sintomáticas a formas graves, com ou sem hemorragia. Esse conjunto de indivíduos infectados (assintomáticos e sintomáticos) podem representar entre 60 a 90 por cento de uma população em área endêmica.
Geralmente entre o terceiro e o sétimo dia da doença deve ocorrer redução ou desaparecimento dos sintomas e sinais, evoluindo para a cura.
Alguns casos evoluem com sinais de alarme sinalizadores de gravidade como dor abdominal intensa, vômitos, sangramentos, queda da pressão arterial, prostração e sonolência ou irritabilidade.
A intervenção de resgate do estado de doença para o estado de saúde na DENGUE vem a ser sintomática e de sustentação da vida, pois não há medicamentos antivirais específicos para os vírus envolvidos.
Disso decorre a importância das intervenções preventivas que são duas: combate ao vetor e imunização com a vacina.
A primeira intervenção preventiva contra a DENGUE tem duas ações estratégicas principais focadas em eliminar os criadouros do mosquito Aedes aegypti e a utilização de repelentes.
A segunda intervenção preventiva vem a ser vacinar, utilizando-se a vacina que contenha as frações imunizantes que protejam contra os quatro vírus da dengue que circulam no mundo, existindo uma vacina tetravalente de nome Dengvaxia que foi aprovada no Brasil em 28 de dezembro de 2015 pela ANVISA.
A imunização se faz com 3 doses da vacina, aplicadas atualmente com intervalo de 6 meses, sem previsão de necessidade de reforço vacinal a posteriori presentemente, em indivíduos entre 9 e 45 anos, podendo ser a critério médico indicada acima dessa faixa etária perante análise personalizada. A vacina DENGVAXIA produzida pelo laboratório SANOFI PASTEUR ajuda a proteger contra os 4 sorotipos da dengue, reduzindo o risco de desenvolver a doença se ocorrer a infecção em 2 de cada 3 infectados, reduzindo em 93% o risco de dengue grave e em 80% o risco de necessitar de hospitalização na ocorrência de DENGUE.
Ao lançar a vacina de nome DENGVAXIA o laboratório SANOFI PASTEUR deixou claro que seu produto protegeria em torno de ao menos 75% dos vacinados, tendo sido relatado que a vacina não requereria cuidados prévios como a realização de exames laboratoriais para identificar o estado sorológico negativo ou positivo para o candidato a ser vacinado.
Os cuidados referenciados pela literatura foram o de adiar a vacinação na presença de doença febril aguda moderada a grave e não realizar a vacinação em pessoas imunodeprimidas, gestantes e mulheres em fase de amamentação. Por conta do insucesso parcial no combate ao vetor, as pessoas buscam a prevenção com a vacina contra a doença, como sendo a melhor estratégia. Tudo estava caminhando quando, em 29 de novembro de 2017, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária resolveu restringir a aplicação da vacina. Segundo a ANVISA, a imunização é considerada segura apenas para aqueles que já foram infectados. A atitude da ANVISA se fundamentou na divulgação pelo LABORATÓRIO SANOFI-PASTEUR dos riscos da vacina imunizante ser aplicada em quem nunca houvesse sido exposto à dengue, risco expressado por tendência de ocorrência de maior número de casos graves nessas pessoas. Resultam desse posicionamento duas opções, a primeira sendo a de se fazer a vacina em indivíduos que tenham certeza de terem sido infectados, idealmente confirmados por sorologia positiva para a DENGUE (SOROPOSITIVOS). A segunda opção para os indivíduos supostamente nunca infectados e nunca adoecidos com DENGUE seria a de não realizar a vacinação e se por ventura desejarem avaliar eventual possibilidade de fazer a vacina, realizar os exames sorológicos e se SORONEGATIVOS não vacinar. Não bastasse a possibilidade de exames falso negativos e ou falso positivos restaria a dificuldade de acesso a esses testes laboratoriais. Assim se configura uma situação em que, de forma simplista mas não simples, pessoas que poderiam se beneficiar da vacina deixam de auferir os possíveis benefícios, levando a um questionamento sério sobre a seriedade da conduta. Estatisticamente falando, não está confirmado se existe o aumento de risco na faixa etária para a qual a vacina é proposta, tratando-se de tendência sem confirmação de sua significância. Concluindo, quem vive em áreas endêmicas da doença, deve avaliar, em conjunto com um médico, se deve ou não se vacinar, pesando o impacto dos riscos da doença e os potenciais benefícios da imunização, conduta igualmente validada de decidir de forma compartilhada os casos em que pessoas receberam a primeira e ou a segunda dose de vacina.
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